Muitas coisas aconteceram.
Sempre ando por aqui lendo os blogs de vocês, mas eu nunca costumo de fato voltar a escrever - como um fantasma silencioso que as acompanha e apenas observa de longe, só que hoje... eu decidi reencarnar.
Odeio a forma como a faculdade me encaixotou e tudo precisa de um momento certo pra acontecer; a hora acerta de escrever, a hora certa de voltar, a hora certa de morrer, a hora certa de se expressar. Irritante demais, era como se a minha criatividade estivesse morrendo, assim como eu - aos poucos e dolorosamente.
Durante a pandemia estive no fundo do poço, perdendo a cabeça sob um burnout depois da minha fase extremamente produtiva. Desrealização e depressão tomaram conta, achei que tinha morrido mesmo sentindo o coração pulsar.
Foi em meados de Março que tudo começou a mudar. Um amigo, o renascentista, me deu um conselho: "mantenha o corpo funcionando do jeito que deveria funcionar e as coisas vão começar a dar certo". Então eu comecei com pouco, colocando o pé pra fora e caminhando às vezes e depois de um tempo o ritmo estava mudando.
O controle não precisa ser tomado de uma vez, mas os esforços precisam ser constantes e lineares. Assim eu emagreci uns 10kg de lá pra cá. Infelizmente o espelho ainda só me mostra banha e gordura mas os números não mentem. E embora eu esteja gorda, 10kg ainda são algo.
Agora, finalmente estou aqui como antes, funcionando como deveria e votando ao lugar onde deixei o meu coração. Anotando idéias da forma como elas vêm a mente e tentando libertar os sentimentos reprimidos que me sufocam.
××××
Desde a última vez em eu estive aqui, tinha muita coisa acontecendo.
Me mudar de cidade não foi tão difícil. Não tinha
ninguém se reunido pra uma despedida, não tinha ninguém que me pediu pra ficar ou dizer que sentiria minha falta. Eu fui embora sem olhar pra trás.
O lado bom: É fácil viver na nova cidade, não demorei pra me adaptar.
O lado ruim: ainda moro com a minha mãe. E isso é muito estressante.
Por incrível que pareça, a minha mãe não pega mais tanto no pé sobre o que eu como, igual a antes, mas meu padrasto continua um pé no saco neste quesito.
Na parte acadêmica, estou no último semestre e logo vou me formar. A apresentação do tcc é uma das coisas que me preocupa, a pandemia não alterou apenas o meu peso mas também fodeu muito o meu psicológico. Além da ansiedade que era passageira, agora eu tenho uma fobia social que me afunda. Por incrível que pareça ainda tem gente que acredita em mim, meu professor me indicou para o mestrado e me disse que eu seria uma excelente pesquisadora. Então, lá vamos nós.
××××
Apesar de não escrever, não estava fora da comunidade de Transtornos Alimentares. E foi ao participar de tudo isso que eu percebi como as coisas mudaram.
Hoje em dia não tem mais essa coisa de Ana e Mia, é até considerado meio "cringe". Elas não costumam romantizar o t.a. como uma deusa, uma amiga que te guia atravéz da jornada de autocontrole.
O t.a. é um monstro te comendo vivo.
E eu não discordo disso. Mas acredito que seja por isso que é meio difícil perder peso, pra essas pessoas.
Quando você encara passar fome como um privilégio, ao invés de um fardo, as coisas ficam mais leves e a perca de peso vem como a melhor recompensa do mundo, é viciante. Você se prende numa ilusão onde a "Ana" não é um monstro, mas sim sua melhor amiga.
Monstro ou amiga.
Ilusão ou não.
A única certeza é que ela nunca vai embora.