31 de maio de 2019

Perfeitamente intocável


Puxo toda quantidade de ar que meus pulmões podem acumular, isso me faz parecer mais magra. Solto lentamente, voltando para realidade dos 55 kg, peso ao qual retornei através do meu incrível poder de estragar tudo. Tanta gordura me deixa enjoada, vomitaria - se houvesse comido qualquer coisa esta manhã.
Conciliar a dieta e o "viver" é uma tarefa árdua. Eles não entendem minha vontade de desaparecer.
Meu amigo C. é um garoto interrompido agora, está internado em uma clínica  psiquiátrica sem contato algum com o mundo exterior. Uma outra amiga está trancando o curso. Meu grupo para trabalhos acadêmicos desmoronou assim como um castelo de areia desmorona sob as ondas do mar. A maré me atinge com força, uma borboleta não consegue voar de asas molhadas. Faço tudo sozinha e minhas notas são uma desgraça.

Estive aguentando "viver" sob a utilização de  Fármacos ilícitos cuja as tarjas são pretas. Um preto escuro como em minhas noites bem dormidas, sem sonhos, apenas a deliciosa sedação. Agora que descobriram, quase tudo se foi e a ansiedade me devora por completo.
Terei de voltar ao psiquiatra, meu namorado me levará ao culto de uma igreja evangélica... tudo isso por uma não internação forçada.

Posto fotos em uma rede social pessoal como se tudo fosse perfeito. Brilho e sorrisos. Já utilizo por tanto tempo esta máscara...Porém, no fim do dia, meu vazio interior só pode ser preenchido com a realização  desejo de ser demasiadamente magra. Esqueça a maldita comida.

Meu verdadeiro desejo é ser tão magra a ponto que tenham medo de me quebrar a qualquer toque. É o que quero ser...

Intocável e Perfeita.

28 de maio de 2019

Sozinha ao redor de pessoas

Éramos nada. Apenas estranhos, em uma rápida troca de olhares numa rua qualquer. Você jamais perceberia meus hábitos excêntricos escondidos sob minha aparência comum. Assim, segundos depois, meu rosto genérico já havia sido esquecido.

Éramos nada outra vez.

E outra;
E outra;
E outra;
Vez.

26 de maio de 2019

We never learn


Meus anos foram apagados em um estalar de dedos. Não é como se eu ensinassem garotinhas o melhor jeito de enfiar os dedos garganta, assim como me ensinaram. 

Meus escritos nunca foram manuais, eles eram apenas diários de dor e delírio.

Talvez isso seja uma prova de que não exista espaço para nada além da felicidade, pouco importando se for real ou não.

Mas nunca aprendo. Irei continuar melancólica em meu batom vermelho e no menor número possível em que meu corpo couber. Afinal, ainda sou uma Ana, que não aceita nada menos que perfeição...

Doce, mortífera e melancólica perfeição.